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Alcança quem não cansa

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Alcança quem não cansa

30
Abr24

«TESTAMENTO ANTOLÓGICO de Aquilino Ribeiro» [ XXI * 2 ] - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro. 1950. «INTRODUÇÃO» [ vol. I ]

XXI - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro . 1950. Ensaio.

Manuel Pinto

https://alcancaquemnaocansa.blogs.sapo.pt/testamento-antologico-de-aquilino-8333

(...) «O autor dos Lusíadas, de cuja memória nos timbramos todos ser mais devotos uns do que os outros, foi excepcional no estro e comum na vida. Se o segregarmos do comércio das Musas, em tudo se nos revela o homem das três dimensões, mais arroba, menos quintal, como dizia Bertoldo. Era indispensável para a sua panteonizacão que, ardendo em exaltamento patriótico, fizéssemos dele um grande do nobiliário, primeiro nas batalhas, chichisbéu de princesas de sangue e, para remate, monstro de dignidade? Em envoltas assim maravilhosas apenas os Faraós entraram na imortalidade e ainda segundo os livros depositados nos sarcófagos.
E que mal havia? Havia que, à luz dos poucos e incontestáveis factos que se conhecem da vida deste grande homem, tudo na sua fisionomia se tornava contraditório e absurdo. Se pertencia à fina flor da aristocracia, como é que na qualidade de filho único era pobre como Job? Depois, nunca os monarcas deixavam corroer na pobreza aqueles que por direito genealógico ocupavam os primeiros degraus do sólio. Conspícua, a munificência absoluta começava por contemplá-los, antes de atender a qualquer outra necessidade. Não era difícil, porque a sua bolsa particular e erário público eram uma e a mesma coisa. Se Luís de Camões era tão colaço com os grandes do Reino, segundo pretendem Teófilo e o Dr. José Maria Rodrigues, como é que o desampararam no Tronco, a prisão ignominiosa, por um caso de lana-caprina, que até a data, que se saiba, jamais levara filho de boa mãe a semelhante lugar? Sim, porque o desampararam, a ponto que, se quis ver-se dali para fora, teve de alistar-se como soldado raso nas forças do Oriente e obter como viático necessário a tal recurso o perdão da sua vítima? Uma vez na Índia, como é que lhe não deram qualquer prebenda, o comando de uma simples fusta ou uma das infinitas melgueiras que no Oriente se reservavam a todos os depenados e fidalgotes de Portugal? Porque teve de recorrer a mesteres humildes, e segunda e terceira vez foi parar ao Tronco, em Goa, umas geenas, instrui o Oriente Conquistado, que escaparam à fantasia de Dante? E, ainda, como aconteceu que Diogo do Couto, «seu matalote», ao fazer escala por Moçambique o fosse encontrar em tal situação que foi preciso recorrer ao peditório para lhe acudir à miséria? Depois, tendo regressado ao pátrio Tejo, não mendigou uma tença na qualidade de inválido de guerra, não mendigaram por ele, não foi morrer num grabato de hospital, tão abandonado e mesquinho que poucos anos decorridos fartaram-se de andar às apalpadelas para descobrir o coval que lhe recebeu os ossos...?!» ...
                                                               (continua)
28
Abr24

«Da GUINÉ ao LARGO DO CARMO: Assim NASCEU O 25 DE ABRIL DE 1974»

25 DE ABRIL DE 1974...

Manuel Pinto

Da Guiné ao Largo do Carmo_Assim nasceu o 25 de A

DA GUINÉ AO LARGO DO CARMO:

ASSIM NASCEU O 25 DE ABRIL DE 1974

por João Paulo Guerra

«Em 1961, esmagadas as incertezas e hesitações dos chefes militares, Salazar mandou avançar para Angola, «rapidamente e em força», assumindo ele próprio a pasta da Defesa Nacional. E foi com Salazar à Defesa que o Império perdeu a jóia da coroa, a Índia.

A descolonização do chamado Estado Português da Índia demorou 36 horas [18 a 19 de Dezembro de 1961], ao cabo de cinco séculos de presença portuguesa e de onze anos de um diálogo de surdos entre Lisboa e Nova Delhi. Um dia e meio foi quanto resistiram cerca de três mil militares portugueses colocados em Goa, Damão e Diu à invasão dos territórios por cerca de 50 mil soldados indianos. Mas, apesar desta desproporção, Salazar enviara de Lisboa para o governador da Índia, general Vassalo e Silva, ordem de que só aceitava soldados portugueses “vitoriosos ou mortos”. Morreram na Índia 67 militares da guarnição portuguesa, 3.500 foram feitos prisioneiros.

A derrota militar na Índia, em Dezembro de 1961, veio dar razão aos militares que, em Abril desse ano, tinham preconizado uma solução política para a questão colonial. Complexados pela derrota, os militares não exploraram o sucesso da sua razão. Pelo contrário, a partir daí remeteram-se ao silêncio por largos anos. E de 1962 a 1973, os militares assumiram a guerra colonial.

Foi nas matas de Angola, da Guiné e de Moçambique que os militares portugueses aprenderam tudo aquilo que ficava por aprender nos manuais da Academia Militar. E a geração que fez a guerra acabou por fazer também a revolução. Foi a geração do capitão Fernando José Salgueiro Maia:

salgueiro maia.jpg

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«Em 25 de Abril de 1974, cansados da guerra, os militares apearam o poder ao qual tinham dado 13 anos de oportunidade para negociar a paz. Menos de dois anos após ter condenado os militares à derrota na Guiné, Marcelo Caetano entregou o poder nas mãos do general Spínola, na tarde de 25 de Abril de 1974.»

«Marcelo Caetano e membros do seu Governo tinham-se refugiado no Quartel da GNR no Largo do Carmo, cercados pelas tropas comandadas dos momentos decisivos do 25 de Abril de 1974. Mas a “Operação Fim do Regime” estava já decidida, na opinião do capitão Salgueiro Maia.

      S.M.O momento decisivo foi no Terreiro do Paço, quando o brigadeiro Junqueira dos Reis, que comandava a força que nos interceptou, deu ordem: “Dispare sobre aquele homem”. Aí, eu tinha duas opções: ou tentava fugir, mas com isso incentivava o instinto do caçador, ou ficava quieto. Foi o que fiz e funcionou. Primeiro, o alferes comandante do pelotão de carros recusou-se a atirar e foi preso. O brigadeiro deu-lhe voz de prisão, ali mesmo. Depois, o brigadeiro foi à torre do carro de combate e disse para o apontador, que era um cabo: “Dispare sobre aquele homem”. E o cabo não disparou. E quando um brigadeiro deu aquela ordem de fogo e um cabo não disparou, aí fez-se o 25 de Abril. Foi o indicador de que a situação era irreversível.»

«Guiados pelo Programa do Movimento das Forças Armadas, os militares derrubaram 48 anos de fascismo mas não tomaram o poder. E o futuro não foi o previsto no labirinto do general Spínola.»

por João Paulo Guerra  

Entrevistas a Fernando Salgueiro Maia (Santarém, 20 de Janeiro de 1992), António Ramos (Lisboa, 18 de Fevereiro de 1994), Carlos Fabião (Bissau, Agosto de 1974 e Lisboa, 18 de Fevereiro de 1993), Manuel dos Santos (Canjambari, Guiné-Bissau, Agosto de 1974 e Bissau, 27 de Janeiro de 1991), Francisco Costa Gomes (Lisboa, 3 de Março de 1993), António Ramalho Eanes (Lisboa, 6 de Abril de 1993), Pedro Pezarat Correia (Lisboa, 11 de Fevereiro de 1993), Kaulza de Arriaga (Lisboa 10 de Fevereiro de 1993), António de Spínola (Lisboa, 26 de Abril de 1993), Waldemar Paradela de Abreu (Lisboa, 20 de Fevereiro de 1994) 

Publicada por João Paulo Guerra  à(s) 24.4.2022 

http://especiedemocracia.blogspot.com/2022/04/da-guine-ao-largo-do-carmo-assim-se-fez.html 

um blog de João Paulo Guerra

27
Abr24

CENSURA [ desde 1933... até 1974 (25 de Abril) ]. «Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão» (Maio de 1971).

Maio de 1971.

Manuel Pinto
 

censura imprensa inicio.jpg  Ilustração do Museu da Imprensa, Porto 

 
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Livros censurados e proibidos pelo Estado Novo

«Entre 1933 e 1974, o Estado Novo censurou e proibiu uma longa lista de livros, por os considerar capazes de “perversão da opinião pública”. Para celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, a Biblioteca de Arte recorda esse período sombrio da história recente do país, mostrando alguns desses livros proibidos que integram uma das suas coleções especiais.
A censura sobre as atividades profissionais relacionadas com a produção intelectual e cultural do país consolidou-se a partir de 1933, através do Decreto-lei n.º 22.469 de 11 de abril desse ano, data da entrada em vigor da Constituição Política da República Portuguesa, documento tutelar dos princípios políticos e ideológicos do Estado Novo.»
...
...
«Nenhuma área do conhecimento escapava ao crivo do lápis azul e ao carimbo vermelho dos censores: das artes plásticas às ciências naturais, da ciência política à economia, da educação à geografia, assim como a filosofia, a história, a literatura, a música, a sociologia e a religião. E terão sido entre 7 a 10 mil livros de autores portugueses e estrangeiros, em edição original ou tradução, que passaram pelos seus olhos e as suas mãos, referenciados nos cerca de 10.000 relatórios de leitura produzidos pelas diversas comissões entre 1934 e 1974.»

...
...
«Enquanto no caso da imprensa, das peças de teatro, dos filmes e, mais tarde, da televisão, os conteúdos eram previamente examinados, no das obras literárias a ação da censura acontecia geralmente após a sua publicação, com a apreensão da edição e proibição de novas edições.»
...
«Entre a longa lista de autores cujas obras foram censuradas e proibidas pelo Estado Novo, encontram-se alguns dos nomes maiores da literatura em língua portuguesa do século XX: Alexandre O’Neill, Alves Redol, Aquilino Ribeiro, Artur Portela Filho, Castro Soromenho, Jorge Amado, José Cardoso Pires, Luandino Vieira, Luís Bernardo Honwana, Luís de Sttau Monteiro, Maria Isabel Barreno, Maria Lamas, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Mário Cesariny, Miguel Torga, Natália Correia, Orlando da Costa, Vergílio Ferreira.»
«Uma pesquisa neste universo revela que uma parte significativa destas edições teve a colaboração de artistas plásticos a quem as editoras — Ulisseia, Inquérito, Europa-América, Estúdios Cor, Minotauro, Atlântida, Afrodite, Arcádia, Portugália, Gleba — entregaram a responsabilidade gráfica das capas e as ilustrações: António Charrua, Bertina Lopes, Cruzeiro Seixas, Fernando Lemos, João Abel Manta, João Vieira, Júlio Pomar, Manuel Ribeiro de Pavia, Nikias Skapinakis, Sebastião Rodrigues, Vespeira, Victor Palla, por exemplo.

Escritores e artistas eram frequentemente companheiros de tertúlias várias, juntos em cumplicidades contra o regime opressor que cerceava a sua criatividade.
No caso dos artistas, vários foram os que se expatriaram, porque em Portugal não lhes era possível viverem da sua arte, porque aqui imperava a indiferença e, mais intolerável ainda, a incompreensão do público perante as suas obras.  Para muitos, a possibilidade de procurar lá fora a liberdade que o país só recuperou em 25 de Abril de 1974 conseguiram-na graças às bolsas que a Fundação Calouste Gulbenkian começou a atribuir aos jovens artistas logo após a sua criação em 1956.»

 
 
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  1968      

"Canção do Soldado", com letra de Urbano Tavares Rodrigues, música e interpretação de Adriano Correia de Oliveira, viola de Rui Pato.

 
 
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COMISSÃO NACIONAL DE DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Maio de 1971
Ao País

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«A proposta governamental de Lei da Imprensa, que a Assembleia Nacional em breve discutirá, coloca em termos graves o problema já antigo das limitações à liberdade de expressão e informação no nosso País.
Essa proposta começa por legislar a existência da própria Censura, a que chama Exame Prévio, o qual terá um largo campo de aplicação, dependente da vontade discricionária do Governo;
Estabelece tão grande número de limitações a uma hipotética liberdade de Imprensa que se torna impossível entender o exercício do respectivo direito;
Entrega ao arbítrio das próprias autoridades administrativas a repressão por ofensa às referidas limitações;
Não admite o princípio da liberdade de fundação de empresas editoriais ou jornalísticas, que é também uma das condições fundamentais da liberdade de Imprensa;
Sujeita o exercício da actividade dos jornalistas a autorização prévia do Governo e possibilita a este a interdição temporária ou definitiva da profissão;
Não toma quaisquer medidas concretas no sentido de libertar a Imprensa do domínio dos grupos financeiros poderosos;
Em suma, a proposta do Governo visa mais perpetuar a censura e a repressão do que assegurar a liberdade de Imprensa.
Desta maneira, o essencial da repressão de todas as expressões do pensamento, que vigora há mais de quarenta anos, provocando estragos irreparáveis na vida e no trabalho dos portugueses, poderá permanecer ou agravar-se a partir da proposta de lei apresentada, numa linha de compressão das inteligências que se apresenta no nosso País como a continuação dos períodos reaccionários na nossa história.»
A compra recente de jornais diários e de estações radiofónicas por poderosos grupos económicos do capital bancário e industrial completa o significado da proposta de lei. Com os órgãos de Imprensa nas mãos do grande capital, o Governo pôde permitir-se finalmente uma lei de Imprensa que, por aquela circunstância e por todos os limites e alçapões nela introduzidos, representará um prolongamento da censura oficial, apoiado agora, também, pela censura interna exercida pelos proprietários dos órgãos de informação.
Tudo isto está indissoluvelmente ligado à questão mais geral das liberdades públicas, não sendo concebível uma normalização da vida nacional sem que o regime de informação pública seja também normalizado, em termos de direito a uma informação livre e completa, e sem que se alcance a capacidade do efectivo exercício desse direito, pois ninguém pode esquecer que até o simples acesso à Informação está condicionado à prévia satisfação das necessidades básicas vitais quanto a alimentação, habitação, saúde, instrução, etc.
Perante esta situação, ainda agravada pela circunstância de a própria imprensa não ter podido tratar deste problema por imposição das censura ou dos proprietários dos jornais, um grupo de pessoas ligadas à vida intelectual portuguesa constituiu-se em Comissão Nacional, a fim de promover uma tomada de consciência pública da gravidade de que o problema se reveste e ajudar, na medida das suas possibilidades, a alertar os País contra os graves perigos que advirão das disposições que se projectam. Igualmente se esforçar pela instauração de um quadro legal que possa garantir em toda a sua extensão a liberdade de expressão e informação.
Mesmo para além da deliberação que vier a ser tomada pela Assembleia Nacional, propõe-se esta Comissão examinar as consequências resultantes da aplicação da lei e chamar a atenção do País para os graves prejuízos que daí resultarão para o presente e futuro de todos nós, reivindicando o direito de actuar, em todas as circunstâncias, de harmonia com estes objectivos.
Assumir tal responsabilidade, apresentasse-nos como um dever que a cada um de nós directamente respeita e obriga, na tarefa comum pelo estabelecimento, no nosso País, das condições que assegurem a dignificação e a livre promoção das pessoas, o que será inviável sem uma efectiva liberdade de informação e expressão, que a proposta apresentada pelo Governo está longe de instituir.»
Maio de 1971.
A Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão

http://especiedemocracia.blogspot.com/2015/04/comissao-nacional-de-defesa-da.html 

Blog de João Paulo Guerra

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