![Da Guiné ao Largo do Carmo_Assim nasceu o 25 de A]()
DA GUINÉ AO LARGO DO CARMO:
ASSIM NASCEU O 25 DE ABRIL DE 1974
por João Paulo Guerra
«Em 1961, esmagadas as incertezas e hesitações dos chefes militares, Salazar mandou avançar para Angola, «rapidamente e em força», assumindo ele próprio a pasta da Defesa Nacional. E foi com Salazar à Defesa que o Império perdeu a jóia da coroa, a Índia.
A descolonização do chamado Estado Português da Índia demorou 36 horas [18 a 19 de Dezembro de 1961], ao cabo de cinco séculos de presença portuguesa e de onze anos de um diálogo de surdos entre Lisboa e Nova Delhi. Um dia e meio foi quanto resistiram cerca de três mil militares portugueses colocados em Goa, Damão e Diu à invasão dos territórios por cerca de 50 mil soldados indianos. Mas, apesar desta desproporção, Salazar enviara de Lisboa para o governador da Índia, general Vassalo e Silva, ordem de que só aceitava soldados portugueses “vitoriosos ou mortos”. Morreram na Índia 67 militares da guarnição portuguesa, 3.500 foram feitos prisioneiros.
A derrota militar na Índia, em Dezembro de 1961, veio dar razão aos militares que, em Abril desse ano, tinham preconizado uma solução política para a questão colonial. Complexados pela derrota, os militares não exploraram o sucesso da sua razão. Pelo contrário, a partir daí remeteram-se ao silêncio por largos anos. E de 1962 a 1973, os militares assumiram a guerra colonial.
Foi nas matas de Angola, da Guiné e de Moçambique que os militares portugueses aprenderam tudo aquilo que ficava por aprender nos manuais da Academia Militar. E a geração que fez a guerra acabou por fazer também a revolução. Foi a geração do capitão Fernando José Salgueiro Maia:
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«Em 25 de Abril de 1974, cansados da guerra, os militares apearam o poder ao qual tinham dado 13 anos de oportunidade para negociar a paz. Menos de dois anos após ter condenado os militares à derrota na Guiné, Marcelo Caetano entregou o poder nas mãos do general Spínola, na tarde de 25 de Abril de 1974.»
«Marcelo Caetano e membros do seu Governo tinham-se refugiado no Quartel da GNR no Largo do Carmo, cercados pelas tropas comandadas dos momentos decisivos do 25 de Abril de 1974. Mas a “Operação Fim do Regime” estava já decidida, na opinião do capitão Salgueiro Maia.
S.M.– O momento decisivo foi no Terreiro do Paço, quando o brigadeiro Junqueira dos Reis, que comandava a força que nos interceptou, deu ordem: “Dispare sobre aquele homem”. Aí, eu tinha duas opções: ou tentava fugir, mas com isso incentivava o instinto do caçador, ou ficava quieto. Foi o que fiz e funcionou. Primeiro, o alferes comandante do pelotão de carros recusou-se a atirar e foi preso. O brigadeiro deu-lhe voz de prisão, ali mesmo. Depois, o brigadeiro foi à torre do carro de combate e disse para o apontador, que era um cabo: “Dispare sobre aquele homem”. E o cabo não disparou. E quando um brigadeiro deu aquela ordem de fogo e um cabo não disparou, aí fez-se o 25 de Abril. Foi o indicador de que a situação era irreversível.»
«Guiados pelo Programa do Movimento das Forças Armadas, os militares derrubaram 48 anos de fascismo mas não tomaram o poder. E o futuro não foi o previsto no labirinto do general Spínola.»
por João Paulo Guerra
Entrevistas a Fernando Salgueiro Maia (Santarém, 20 de Janeiro de 1992), António Ramos (Lisboa, 18 de Fevereiro de 1994), Carlos Fabião (Bissau, Agosto de 1974 e Lisboa, 18 de Fevereiro de 1993), Manuel dos Santos (Canjambari, Guiné-Bissau, Agosto de 1974 e Bissau, 27 de Janeiro de 1991), Francisco Costa Gomes (Lisboa, 3 de Março de 1993), António Ramalho Eanes (Lisboa, 6 de Abril de 1993), Pedro Pezarat Correia (Lisboa, 11 de Fevereiro de 1993), Kaulza de Arriaga (Lisboa 10 de Fevereiro de 1993), António de Spínola (Lisboa, 26 de Abril de 1993), Waldemar Paradela de Abreu (Lisboa, 20 de Fevereiro de 1994)
Publicada por João Paulo Guerra à(s) 24.4.2022
http://especiedemocracia.blogspot.com/2022/04/da-guine-ao-largo-do-carmo-assim-se-fez.html
um blog de João Paulo Guerra