Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alcança quem não cansa

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Alcança quem não cansa

31
Jul24

ANTOLOGIA _ A1 ( XXI - 43) - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro. 1950. Ensaio. «DO BERÇO À NAU S. BENTO» {c. VI de XVIII} * [ vol. I ]

XXI - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro . 1950. Ensaio.

Manuel Pinto

CAP VI RESUMO.jpg

... «Judiciosamente escreve o Professor Cidade com respeito à crise de personalidade poética: A herança comum de Horácio, Ovídio ou Virgílio, de Petrarca, Sanazzaro ou Bembo, além de outros, criou esta espécie de brando oiro amoedado para a circulação entre os poetas quinhentistas. Temas e formas expressivas passam de mão em mão, levando quase sempre, mais ou menos sensível, a impressão digital daquele de quem directamente a receberam.
A propósito da introdução por Sá de Miranda das várias formas do estilo escreve Storck que Luís de Camões, um decénio depois, «já as manejava com singular destreza».
Esta frase poderia aplicar-se àqueles que passam com distinção da arte de cavalgar sela para a arte de conduzir um coche. Dir-se-ia que a aprendizagem era complexa e requeria um esforço gradativo. Teófilo Braga abunda neste mesmo conceito, como se se tratasse dum novo processo de bater ou forjar o ferro.
Santa Maria vale, aqui está neste Sá o terrível domador Aquileus do verso petrarquiano, e todos os seus corifeus, António Ferreira, Diogo Bernardes, D. Manuel de Portugal, Francisco de Sá de Meneses, Jorge de Montemor, Falcão de Resende, Andrade de Caminha, embasbacados e de joelho em terra!
E o excelente Storck, que devia ter manejado a rapière e a asa da caneca nas cervejarias de Heidelberg, de dizer, supinamente etnográfico: Talvez (ou digamos, com certeza) -- os colegiais e estudantes de Coimbra cantassem e continuassem a cantar inter pocula as velhas melodias populares, inventando até textos novos, no mesmo género e estilo, e na toada das modinhas mas predilectas, porque as formas então novas não se prestavam, nem ainda se prestam, nem muito nem pouco em língua alguma, tanto em italiano como em espanhol ou em português, ao bel-canto, partilhando a sorte das odes clássicas da Alemanha, de Klopstock e dos apóstolos.
Santa inocência, envidraçando o óculo tudesco! Os escolares, 99 por cento, em matéria de cantorias, nunca se apartaram da corrente marcadamente nacional, e por conseguinte vernácula até o arcaico: naqueles tempos, o padre-nosso cantado, ladainhas e bendito; com a Restauração, lunduns; com D. Maria, loas ao Santíssimo; modernamente, o fado.» ...
 
(continua)
30
Jul24

ANTOLOGIA _ A1 ( XXI - 42) - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro. 1950. Ensaio. «DO BERÇO À NAU S. BENTO» {c. VI de XVIII} * [ vol. I ]

XXI - LUÍS DE CAMÕES - Fabuloso * Verdadeiro . 1950. Ensaio.

Manuel Pinto

CAP VI RESUMO.jpg

... «Celebra-se Sá de Miranda como autor de revolução profunda nas letras portuguesas. O soneto, a elegia, o epos agrupados segundo estas e aquelas estrofes, sob o ponto de vista de inspiração e do primado poético que implicavam de superior? O instrumento podia variar, mas a música ficava a mesma. Correspondentemente, portugueses e espanhóis dedilhavam em liras diferentes. Em poesia a ideia foi sempre o acessório; importa menos o assunto do que o matiz inspirado com que é colorido o painel. 
Assim os dois sonetos de Camões: O culto divinal se celebrava e Todas as almas tristes se mostravam nasceram do tema petrarquiano da Semana Santa com a contenção espiritual que lhe é própria:
 
      Era'l giorno ch'al sol si scoloraro.
 
Bastou este mote para tornar a temporada das Endoenças a sazão do cio dos petrarquistas de todos os países e de todos os tempos.
Diz Storck, a meu ver com assisado sainete, que semelhante quadra entrou definitivamente para a mitologia poética depois que Petrarca, baralhando as cartas, fez coincidir a Paixão de Cristo com a sua pretensa paixão. Camões singrou nestas águas com a sua elegia da Sexta-Feira Maior.
Francisco Petrarca, na vontade de dar o que há de impositivo, espiritual, e misterioso no amor, criou uma metafísica poética, para que não contribuiu pouco o neoplatonismo com as suas velaturas psicológicas e suas sondagens artesianas da alma. A beleza foi arvorada em Personalidade estética, existente por si ab aeterno, sorte de deusa soberana a que os iluminados vinham queimar os incensos e dirigir seus votos. Tudo neste culto era levitação, rapto de amor, júbilo e choro desfeito, esperança e desesperança, vaivém de contrastes que redundavam às vezes em verdadeiro quebra-cabeças verbal.
Dizia Graciano que «o grave e subtil Camões» costumava rematar os sonetos por un encarecimiento paradoxo que es uno de los mayores excessos del pensar y assi tan primoroso quan difficultoso. Numa palavra, a poesia, quase toda ela de essência amorosa, tornara-se uma criptografia, avessa à interpretação directa, sempre figurada ou sempre simbólica. Os poetas mergulhavam a sonda no pélago confuso das suas sensações e o que vinha à superfície trasladavam-no ao verso. Bem decerto que não em sua inteira pureza original. A arte é tempero como a olla podrida. O mundo dos fenómenos fornecia apenas os princípios básicos, o plano. Profere o Dr. José Maria Rodrigues, libelando de Camões: Porque não hei-de supor que a celebrada Natércia, que tanto tem dado que cuidar aos seus biógrafos, não é mais que um parto da sua imaginação para, por sua conta, filosofar de amor?
De facto, tal sentimento na poesia petrarquiana era mais um jogo de espírito, uma álgebra no espaço subjectivo, do que uma paixão condicionada pelos mil e um factores da vida ambiente. E a imaginação substituía as demais faculdades, sendo o supremo desiderato imitar Petrarca.» ...
(continua)

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub