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Alcança quem não cansa

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Um Blog utilizado para a divulgação das obras de Aquilino Ribeiro. «Move-me apenas o culto da verdade, pouco me importando que seja vermelha ou branca.» [Aquilino Ribeiro]

Alcança quem não cansa

31
Jan25

EFEMÉRIDES: Anos de 1906, 1907, 1908. Vídeos RTP

Bibliografia: Manuel Mendes: «Aquilino Ribeiro-a obra e o homem»; Jorge Reis: «Páginas do Exílio»1º

Manuel Pinto

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(ii) Jorge Reis, “AQUILINO, Páginas do Exílio (1908 a 1914), Cartas e Crónicas de Paris”, 1º volume. Vega (1987)

 

MANUEL MENDES.jpg

(i) Manuel Mendes, “Aquilino Ribeiro: a obra e o homem” (2ª edição), Editora Arcádia (1987)

 

Ano 1906   (i)

Vem residir para Lisboa. Primeiramente para a Rua do Crucifixo, depois Rua das Pedras Negras e mais tarde Rua do Carrião. E em que se ocupava? «Moina, jornalismo, o ambiente republicano revolucionário», que o escritor pinta nas Lápides Partidas.

Escreve na Vanguarda de Sebastião de Magalhães Lima, onde publica os seus primeiros artigos. Traduz Il Santo de Fogazzaro, publicado pelo editor José Barros, e em seguida começa a redigir o romance em fascículos, A Filha do Jardineiro, cujo primeiro capítulo é da sua autoria, o segundo da autoria de José Ferreira da Silva, que mais tarde seria ministro das Obras Públicas da República, romance este que ficou no terceiro capítulo, da lavra de Aquilino.

(i) Manuel Mendes, “Aquilino Ribeiro: a obra e o homem” (2ª edição), Editora Arcádia (1987)

Ano 1906  (ii)

  • Chega a Lisboa e a fim de ganhar a vida, submete uns escritos à Vanguarda, de Magalhães Lima, ao mesmo tempo que traduz Il Santo, de Fogazzaro e dá início a um romance, A Filha do Jardineiro.

(ii) Jorge Reis, “AQUILINO, Páginas do Exílio (1908 a 1914), Cartas e Crónicas de Paris”, 1º volume. Vega (1987)

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Ano 1907    (i)
É um ano agitado na vida portuguesa, pelo tumultuar da paixão política. O Partido Republicano toma a ofensiva contra as velhas e anquilosadas instituições. Comícios, polémicas nos jornais, duelos, encerramento manu militari do Parlamento, greve académica em Coimbra, lei celerada, uma explosão na Estrela, outra na Rua do Carrião. Esta ocorreu no quarto de Aquilino. Na véspera fora abordado em pleno Rossio por Luz de Almeida:
  -- Temos de retirar do consultório do Dr. Gonçalves Lopes a metralha que lá tem. A polícia anda desconfiada com ele. Não podia recebê-la no seu quarto?
  -- A dona da casa é uma grande bisbilhoteira. Nada lhe escapa…
  -- Por dois ou três dias…?
  -- É muita coisa?
  -- Dois caixotitos…
Foram ainda nesse mesmo dia às costas de dois galegos, e tiveram de voltar pelo mesmo caminho porque nem eu estava em casa nem a criada fora prevenida para os receber. Limitara-se a despachá-los:
  -- Para aqui não é nada. Vêm enganados.
Voltaram no dia seguinte, domingo, pela manhã. Não eram dois caixotitos, eram dois caixotões.
«Depois do meio-dia -- conta Aquilino – apareceram o Dr. Goncalves Lopes, professor do Liceu do Carmo, e Belmonte de Lemos, com loja de algibebe, creio, na Rua dos Fanqueiros. Brusquant a minha expectativa, abriram os caixotes, tiraram os explosivos para cima da minha pequena mesa de trabalho, e puseram-se a manipulá-los. A certa altura deu-se a terrível explosão que vitimou os dois, ocupados na operação. Não fui atingido e compreende-se, encontrava-me às espaldas, a ver por cima dos ombros deles como faziam.»
Dado o alarme, é preso e levado para a Esquadra do Caminho Novo, de cujo cárcere, uma casa-mata, se evade na noite de 12 de Janeiro. Este acontecimento teve retumbância política. Viveu escondido em Lisboa, durante algum tempo.
(i) Manuel Mendes, “Aquilino Ribeiro: a obra e o homem” (2ª edição), Editora Arcádia (1987)

 

Ano 1907  (ii)

  • Entra para um canteiro da Carbonária e é admitido no corpo redactorial da Vanguarda. Colabora igualmente na Voz Pública, do Porto, e em A BEIRA, de Viseu.
  • Tendo aceitado esconder um caixote de bombas no seu quarto de hóspede, na Rua do Carrião, no dia 17 de Novembro, foi preso por bombista devido à explosão dos engenhos infernais, que custou a vida ao Dr. Gonçalves Lopes.

(ii) Jorge Reis, “AQUILINO, Páginas do Exílio (1908 a 1914), Cartas e Crónicas de Paris”, 1º volume. Vega (1987)

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Ano 1908   (i)

Em Maio, segue clandestinamente para Paris, tendo ido tomar o Sud ao Entroncamento. Nesta cidade reside seis anos, convivendo com artistas e escritores, naquela atmosfera que descreve no livro sobre Leal da Câmara, seu companheiro e compadre.

(i) Manuel Mendes, “Aquilino Ribeiro: a obra e o homem” (2ª edição), Editora Arcádia (1987)

Ano 1908  (ii)

  • Consegue evadir-se do calabouço do Caminho Novo, na madrugada de 12 de Janeiro, e escondido «nas águas-furtadas dum prédio pombalino a 150 metros da Parreirinha pelas escadinhas de S. Francisco», trava conhecimento com Anatole France e publica, na Ilustração Portuguesa de 27 de Abril, uma crónica intitulada «As Feiras».
  • A 31 de Maio, toma em Lisboa o comboio ronceiro para o Entroncamento a fim de, no dia seguinte, «com valise e monóculo a armar ao janota», subir para o Sud-Express e seguir para Paris. Chega à Cidade-Luz a 3 de Junho e é acolhido pelo pintor Manuel Jardim, na Rue Pierre Nicole, no «coruto de Montparnasse», a dois passos da Clôserie des Lilas e do Bul Bulier.

(ii) Jorge Reis, “AQUILINO, Páginas do Exílio (1908 a 1914), Cartas e Crónicas de Paris”, 1º volume. Vega (1987)

 

Outras Efemérides :

Ano 1906  (ii)

  • João Franco é nomeado chefe de governo.
  • Brito Camacho funda o jornal A LUTA.

Ano 1907  (ii)

  • Golpe de Estado de João Franco: a ditadura.
  • Criação em Coimbra de um Centro Académico de Democracia Cristã (CADC) destinado a combater em nome da monarquia e da Igreja as ideias republicanas.
  • Grande actividade dos meios libertários. Explosões em Lisboa.

Ano 1908  (ii)

  • O regicídio.
  • 1º Congresso Nacional do Livre Pensamento.
  • Fundação do Diário sindicalista A Greve e do semanário anarquista O Protesto.

(ii) Jorge Reis, “AQUILINO, Páginas do Exílio (1908 a 1914), Cartas e Crónicas de Paris”, 1º volume. Vega (1987)

 

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Ep. 1
https://www.rtp.pt/play/p250/e301131/o-dia-do-regicidio

Ep. 2
https://www.rtp.pt/play/p250/e301121/o-dia-do-regicidio

Ep. 3
https://www.rtp.pt/play/p250/e301158/o-dia-do-regicidio

Ep. 4
https://www.rtp.pt/play/p250/e301279/o-dia-do-regicidio

Ep. 5
https://www.rtp.pt/play/p250/e301646/o-dia-do-regicidio

Ep. 6
https://www.rtp.pt/play/p250/e301767/o-dia-do-regicidio

 

 

28
Jan25

«CAMÕES E A SUA MÁ ESTRELA». "O rufião de Sevilha e Leonardo, o enamorado" (continuação). 1949. [ 10 ]

«CAMÕES, CAMILO, EÇA E ALGUNS MAIS». Ensaios de Crítica Histórico-Literária. Primavera de 1949.

Manuel Pinto


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«Quanto ao lai de Leonardo enamorado, omisso igualmente, muito bem observou o transitório possuidor do códice, que veio parar às mãos de Faria e Sousa, que a acção sofre à altura da estância 41 (canto VI) um hiato chocante.» ...

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Vencidos vêm do sono e mal despertos;
Bocijando, a miúdo se encostavam
Pelas antenas, todos mal cobertos
Contra os agudos ares que assopravam;
Os olhos contra seu querer abertos;
Mas estregando, os membros estiravam.
Remédios contra o sono buscar querem,
Histórias contam, casos mil referem.

Os Lusíadas, VI . 39.


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– «Com que milhor podemos (um dizia)
Este tempo passar, que é tão pesado,
Senão com algum conto de alegria,
Com que nos deixe o sono carregado?»
Responde Leonardo, que trazia
Pensamentos de firme namorado:

– «Que contos poderemos ter milhores,
Pera passar o tempo, que de amores?»

Os Lusíadas, VI . 40.

 

– «Não é (disse Veloso) cousa justa
Tratar branduras em tanta aspereza,
Que o trabalho do mar, que tanto custa,
Não sofre amores nem delicadeza;
Antes de guerra, férvida e robusta
A nossa história seja, pois dureza
Nossa vida há-de ser, segundo entendo,
Que o trabalho por vir mo está dizendo.»

Os Lusíadas, VI . 41.

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«... De certo foi a própria mão do autor, e não a mão canónica e moralona do Pe. Bartolomeu, que riscou as estrofes insuficientemente estéticas.
Seja como for, nelas comparece o Luís de Camões das cartas eróticas, irmão de alma, génio e incontinência de François Villon e de Miguel Cervantes de Saavedra, humilde por nascimento e condição -- di-lo o ofertório a D. Rodrigo da Cunha da edição de 1613 -- pobre, de vida tão mesquinha que o seu mister em Goa era o de escrevente público -- isto é, fazia as cartas aos soldados e aos fidalgos de letras gordas e compunha a mais papelada -- homem das cadeias, e, quando velho, pedinte de muleta e sacola.»

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Imagem extraída do «DICIONÁRIO de LUÍS de CAMões»,
Coordenação de Vítor Aguiar e Silva, 1ª edição (Setembro de 2011).

Editorial Caminho.
26
Jan25

«CAMÕES E A SUA MÁ ESTRELA». "O rufião de Sevilha e Leonardo, o enamorado". 1949. [ 9 ]

«CAMÕES, CAMILO, EÇA E ALGUNS MAIS». Ensaios de Crítica Histórico-Literária. Primavera de 1949.

Manuel Pinto

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... «O poema tem mesmo de considerar-se como um dos tombos do português.»

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«A batalha de Aljubarrota bate seu auge:

«Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaxo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam.
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co as duras armas tudo atroam.
Recrecem os imigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.

Os Lusíadas,  IV. 31.

 

«Destoa ainda decantando uma personagem de ficção pura e não histórica ou com base na lenda»:

O taful Salazar, o mais antigo rufião de Sevilha

«Baqueiam Velasquez e Sanches de Toledo, o monteiro e o letrado; baqueia Guevara, enlambuzado de sangue. Chegou a hora de

Salazar, grão taful e o mais antigo
Rufião que Sevilha então sostinha,
A quem a fasa amiga, que consigo
Trouxe, de noite, só, fugido tinha.

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(continua)

23
Jan25

«CAMÕES E A SUA MÁ ESTRELA». "Quem merca os Lusíadas... Quem merca ?". «CAMÕES, CAMILO, EÇA E ALGUNS MAIS». Ensaios de Crítica Histórico-Literária. 1949. [ 8 ]

Cadernos Históricos (Vária). Direcção de Rocha Martins e Lopes de Oliveira. Edições Excelsior. 1946.

Manuel Pinto

 

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«POBRE Luís de Camões! Desde a publicação dos Lusíadas até a morte, que não vinha longe, disse mal da sua estrela. Todos esses anos ninguém fez reparo nele.»

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«Não toparam aura os Lusíadas. Frades e latinistas achavam-lhe a linguagem difícil, pretensiosa, pouco ao sabor do gosto corrente. E teria ocorrido esta lamentosa história. Na sua sede de perfeição Luís de Camões sacrificara a primeira tiragem, vendendo uns exemplares ao desbarato, rasgando e até queimando outros, tanto saíra mareada de gralhas do tipógrafo, erros de ortografia, faltas de métrica e até de gramática, efeito natural da sua inexperiência de revisor e duma composição precipitada.»

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Fonte da 1ª e última Imagens:
 «DICIONÁRIO de LUÍS de CAMões»,
Coordenação de Vítor Aguiar e Silva, 1ª edição (Setembro de 2011).
Editorial Caminho.
 
20
Jan25

«O CENSOR DOS LUSÍADAS». Estâncias d' Os Lusíadas "a esladroar". «CAMÕES, CAMILO, EÇA E ALGUNS MAIS». Ensaios de Crítica Histórico-Literária. 1949. [ 7 ]

Cadernos Históricos (Vária). Direcção de Rocha Martins e Lopes de Oliveira. Edições Excelsior

Manuel Pinto

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«O frade, com o poeta no outro mundo, podia tripudiar à vontade sobre a Beleza.»

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Fonte das 2 Imagens:
 «DICIONÁRIO de LUÍS de CAMões»,
Coordenação de Vítor Aguiar e Silva, 1ª edição (Setembro de 2011).
Editorial Caminho.

 

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«Nos Lusíadas,  há pois que esladroar as estâncias em questão, dum barroco teológico incompatível com a bela ordenança, puro estilo Renascimento, do restante poema. Até sob o ponto de vista dimensional dos cantos, essa monda se impõe. Com efeito, à parte o Canto III que conta 143 estâncias, todos os outros orçam pela centena.»

O Canto IX terminaria com os dois versos:

  88. 
Assi a fermosa e a forte companhia
O dia quási todo estão passando
Nũa alma, doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.

«Tudo o mais é redundância, enfadonha prolixidade, desenvolvimento bastante abstruso do mesmo conceito, uma mastigação tão ao avesso do ático e conciso Camões.»

O canto X, finalmente, sem as onze estâncias (109 a 119) que começam: 

109.
«Aqui a cidade foi que se chamava
Meliapor, fermosa, grande e rica;
Os Ídolos antigos adorava,
Como inda agora faz a gente inica.
Longe do mar naquele tempo estava,
Quando a Fé, que no mundo se pubrica,
Tomé vinha prègando, e já passara
Províncias mil do mundo, que ensinara.

110.
«Chegado aqui, prègando e junto dando
A doentes saúde, a mortos vida,
Acaso traz um dia o mar, vagando,
Um lenho de grandeza desmedida.
Deseja o Rei, que andava edificando,
Fazer dele madeira; e não duvida
Poder tirá-lo a terra, com possantes
Forças d' homens, de engenhos, de alifantes.

111.
«Era tão grande o peso do madeiro
Que, só pera abalar-se, nada abasta;
Mas o núncio de Cristo verdadeiro
Menos trabalho em tal negócio gasta:
Ata o cordão que traz, por derradeiro,
No tronco, e facilmente o leva e arrasta
Pera onde faça um sumptuoso templo
Que ficasse aos futuros por exemplo.

112.
«Sabia bem que se com fé formada
Mandar a um monte surdo que se mova,
Que obedecerá logo à voz sagrada,
Que assi lho ensinou Cristo, e ele o prova.
A gente ficou disto alvoraçada;
Os Brâmenes o têm por cousa nova;
Vendo os milagres, vendo a santidade,
Hão medo de perder autoridade.

113.
«São estes sacerdotes dos Gentios
Em quem mais penetrado tinha enveja;
Buscam maneiras mil, buscam desvios,
Com que Tomé não se ouça, ou morto seja.
O principal, que ao peito traz os fios,
Um caso horrendo faz, que o mundo veja
Que inimiga não há, tão dura e fera,
Como a virtude falsa, da sincera.

114.
«Um filho próprio mata, e logo acusa
De homicídio Tomé, que era inocente;
Dá falsas testemunhas, como se usa;
Condenaram-no a morte brevemente.
O Santo, que não vê milhor escusa
Que apelar pera o Padre omnipotente,
Quer, diante do Rei e dos senhores,
Que se faça um milagre dos maiores.

115.
«O corpo morto manda ser trazido,
Que res[s]ucite e seja perguntado
Quem foi seu matador, e será crido
Por testemunho, o seu, mais aprovado.
Viram todos o moço vivo, erguido,
Em nome de Jesus crucificado:
Dá graças a Tomé, que lhe deu vida,
E descobre seu pai ser homicida.

116.
«Este milagre fez tamanho espanto
Que o Rei se banha logo na água santa,
E muitos após ele; um beija o manto,
Outro louvor do Deus de Tomé canta.
Os Brâmenes se encheram de ódio tanto,
Com seu veneno os morde enveja tanta,
Que, persuadindo a isso o povo rudo,
Determinam matá-lo, em fim de tudo.

117.
«Um dia que prègando ao povo estava,
Fingiram entre a gente um arruido.
(Já Cristo neste tempo lhe ordenava
Que, padecendo, fosse ao Céu subido);
A multidão das pedras que voava
No Santo dá, já a tudo oferecido;
Um dos maus, por fartar-se mais depressa,
Com crua lança o peito lhe atravessa.

118.
«Choraram-te, Tomé, o Gange e o Indo;
Chorou-te toda a terra que pisaste;
Mais te choram as almas que vestindo
Se iam da santa Fé que lhe ensinaste.
Mas os Anjos do Céu, cantando e rindo,
Te recebem na glória que ganhaste.
Pedimos-te que a Deus ajuda peças
Com que os teus Lusitanos favoreças.

e acabam:

119.
«E vós outros que os nomes usurpais
De mandados de Deus, como Tomé,
Dizei: se sois mandados, como estais
Sem irdes a prègar a santa Fé?
Olhai que, se sois Sal e vos danais
Na pátria, onde profeta ninguém é,
Com que se salgarão em nossos dias
(Infiéis deixo) tantas heresias?

... embutidas a nosso ver pela mão do frade, e com o que o fio da narração poética nada sofre, ficaria reduzido a   145   = (156-11), por consequência ganhando também neste plano de perspectivas.»

*

*           *

 

https://alcancaquemnaocansa.blogs.sapo.pt/os-lusiadas-poema-epico-dez-cantos-156305?tc=186099557332

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 Carlos Ascenso André  03.01.2025

Não sou muito entusiasta da ciência dos números aplicada à apreciação de obras literária (uma espécie de aritmosofia na literatura). Mas que há coincidências espantosas, lá isso há. Salta à vista, por exemplo, a quase equivalência dos cantos V e VI. Ora, o canto V é onde está um episódio determinante em toda a narrativa, o episódio do Adamastor, momento da vitória sobre os medos, mas também profecia da história trágico-marítima que viria depois; e o canto VI é o da chegada à Índia. Os dois juntos fazem o centro geométrico do poema. Jorge de Sena foi exaustivo neste tipo de análise e Vasco Graça Moura também (em alguns momentos) usou essa lupa. Saúdo a publicação que se faz aqui pela curiosidade de que se reveste e que abre pistas muito interessantes. Carlos Ascenso André

 

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